Empresas do Reino Unido estão monitorando o humor de seus funcionários

Por Sarah Schmidt

Pelo menos quatro empresas britânicas estão utilizando ferramentas de vigilância para monitorar seus funcionários, de acordo com matérias publicadas pelo site IT Pro e The Times. A tecnologia é fornecida pela empresa Humanyze, que disponibiliza ferramentas de rastreamento que monitora o tom de voz, os passos e o nível de estresse dos funcionários. O uso seria opcional, mas 90% dos trabalhadores dessas empresas aderiram ao programa. Esse tipo de rastreamento levanta preocupações sobre vigilância corporativa.

De acordo com o Times, a tecnologia do Humanyse está sendo testada pelo banco Deloitte, por uma empresa varejista, e por alguns departamentos do NHS, o Serviço Nacional de Saúde britânico. O gadget utilizado consiste em uma espécie de colar, que funciona como rastreador via Bluetooth, contendo acelerômetro, GPS e microfone, para monitorar a localização do funcionário, sua linguagem corporal e avaliar os níveis de estresse por meio da análise do tom de voz das conversas. Segundo a empresa responsável, a tecnologia não gravaria o conteúdo dos diálogos. O argumento para a utilização desta tecnologia seria a possibilidade de prever o quão produtiva e feliz a pessoa está no trabalho.

Este tipo de tecnologia levanta muitas questões sobre vigilância e privacidade e quais são os limites que as corporações precisam respeitar quando o assunto é a comunicação e a liberdade de seus funcionários. “Esses dispositivos são parte de uma mudança mais ampla para uma cultura de vigilância no local de trabalho”, afirmou Pam Cowburn, diretor de comunicação do Open Rights Group, ao site IT Pro.

Existe inclusive uma preocupação jurídica sobre esse tipo de situação: as empresas teriam autorização para praticar esse tipo de coleta e análise? Isso seria ético? Outra questão é sobre a liberdade do funcionário de escolher utilizar ou não este tipo de ferramenta: será que ele não estaria se sentido obrigado a usar, pois sua recusa poderia implicar em desentendimentos com seus superiores? De acordo com IT Pro, muitas vezes o discurso sobre o uso deste tipo de tecnologia pode gerar simpatia porque é justificado como um monitoramento para acompanhar o bem-estar do funcionário.

O fato de empresas aderirem a essas tecnologias pode estar atrelado à ideia de gestão do “capital emocional”. “Desde a década de 1990, diversos especialistas do mundo corporativo apresentam as emoções como elemento decisivo na competição entre empresas e anunciam que as competências emocionais são o diferencial capaz de definir o sucesso ou o fracasso de uma carreira profissional”, escreveu o pesquisador Daniel Pereira Andrade no artigo “Vigilância e Controle do Afetos no Trabalho: a Gestão do Capital Emocional”. O texto foi apresentado no III Simpósio Internacional Lavits, realizado no Rio de Janeiro em 2015.

Ainda no artigo, ele também analisa que “discute-se amplamente o que são as emoções e como elas podem ser (auto) geridas para se obter desempenhos mais eficientes e se alavancar os ganhos econômicos”.

Crédito da imagem: The Times