Sociedade civil e vereadores se unem para criar lei municipal de proteção de dados em SP

Proposta será apresentada em coletiva de imprensa na sexta-feira (24) às 13h com a presença dos autores

 

Mandatos de partidos diversos – PSDB, PSD, PT e PSOL – juntaram forças para a criação de um projeto de lei desenvolvido em conjunto com organizações da sociedade civil – que estabelece diretrizes para uso dos dados dos munícipes pelo poder público municipal. O objetivo é preparar São Paulo para um futuro no qual essas informações tendem a ser mobilizadas com frequência e assegurar a proteção das pessoas.

 

A emergência das novas tecnologias de informação e comunicação trouxe consigo a possibilidade de pensar políticas públicas a partir de informações reunidas pelos braços do governo local como escolas, postos de saúde, concessionárias operadoras do transporte público, etc. E, no entanto, a ausência de regras claras para o uso de dados dos munícipes cria insegurança jurídica tanto para o governo quanto para empresas, o que torna a população vulnerável à riscos como o assédio e a discriminação. Considerando este cenário, pesquisadores da rede Lavits desenvolveram um texto base para criação de projetos de lei para a proteção de dados pessoais dos munícipes no âmbito da gestão pública municipal, pelo projeto “Sua Cidade, Seus Dados“.

 

O texto foi apresentado para diversas organizações da sociedade civil e a parlamentares de diferentes partidos, independentemente de posição no espectro político, já que a proteção dos dados dos munícipes é uma questão suprapartidária. Com apoio do Coletivo Intervozes, da Rede Nossa São Paulo e dos gabinetes dos vereadores Eduardo Suplicy (PT), Patrícia Bezerra (PSDB), Police Neto (PSD),  Juliana Cardoso (PT), Sâmia Bomfim (PSOL) e Toninho Vespoli (PSOL) a proposta será protocolada no dia 23 de novembro e passa tramitar na Câmara Municipal de São Paulo. Para explicar os objetivos do PL, os mandatos envolvidos, a Lavits, Intervozes e a Rede Nossa São Paulo promoverão uma coletiva de imprensa no dia 24 de novembro às 13h.

 

“Existem riscos e oportunidades no uso de tecnologias de informação e comunicação na gestão pública. Nesse contexto, essa lei prescreve direitos e deveres por parte do cidadão e do gestor público, sendo instrumental ao exercício da cidadania e a uma gestão pública mais eficiente. Ela tem a função dupla de proteger os direitos fundamentais do cidadão e de fomentar a inovação na administração pública. Em última análise, trata-se re reforçar o elo de confiança entre os munícipes e o gestor público”, destaca Bruno Bioni, advogado e redator do texto base do PL municipal de proteção de dados, mestre pela USP e pesquisador da Lavits.

 

Para o vereador do PSOL, Toninho Vespoli, a iniciativa é uma forma de reagir ás propostas de uso comercial dos dados do cidadão. “Um Projeto de Lei Municipal de Proteção de Dados Pessoais e Privacidade por iniciativa da sociedade civil organizada é a prova de que o povo não aceitará de forma tranquila o Prefeito de São Paulo realizar lobby com nossas informações. A comercialização de dados pessoais é o petróleo do século XXI e o legislativo tem o dever de incidir com medidas regulatórias nessa nossa economia informacional.”

 

Paulo Lara, mestre pela Unicamp e membro da Lavits, alerta que o debate público e as ações pela transparência e privacidade precisam se adiantar em relação as já visíveis transformações tecnológicas e suas consequências para a liberdade e privacidade dos munícipes. “Precisamos urgentemente de marcos legais que deixem evidentes os direitos e deveres de cada uma das partes, tendo em vista que novas formas de abusos a partir de coletas de dados já estão em curso”, frisa Lara.

 

“A economia da era digital é impulsionada pela informação, gerada por dados pessoais. Os dados de cada indivíduo geram dinheiro, impulsionam a indústria e o comércio. Mas o grande desafio é como preservar a privacidade de cada cidadão. Não existe economia sem confiança. Para que o cidadão tenha confiança é preciso que as regras sejam claras e que os dados de cada indivíduo estejam protegidos. Apenas com regras claras o cidadão ficará à vontade para abrir suas informações e confiar a entrega de seus dados,” afirma Patrícia Bezerra, vereadora de São Paulo pelo PSDB e coautora do PL nº 807/2017 .

 

As primeiras discussões em torno da construção de um texto que servisse de base para a elaboração de PLs municipais de proteção de dados começaram em abril desse ano. Uma proposta decorrente deste processo, em integral conformidade com a versão formulada pelos pesquisadores da Lavits, já tramita na Câmara Municipal de Campinas (PL n° 297/2017). Diversos outros municípios e capitais de estado já têm iniciativas em andamento para construção de processos legislativos semelhantes, a partir do texto base proposto pela Lavits como parte do projeto “Sua Cidade, Seus Dados”.

 

“Percebemos que a partir da iniciativa legislativa, construímos uma oportunidade de debate público acerca do uso de dados pessoais dos munícipes pela gestão pública. Isso é fundamental neste momento de avanço na coleta e tratamento de dados nos serviços prestados pelos municípios. Por isso, o Intervozes está comprometido a impulsionar este processo”, diz Marina Pita, coordenadora do Coletivo Intervozes, organização membro da Coalizão Direitos na Rede, que também apoia a iniciativa.

 

“Assegurar a publicidade dos dados públicos e a privacidade dos dados pessoais, parecem coisas óbvias mas temos de avançar muito nestes pontos para garantir a democracia e este projeto preservando as informações dos cidadãos é um passo essencial”, apontou o vereador pelo PSD, Police Neto, um dos coautores do projeto.

 

O vereador pelo PT, Eduardo Suplicy, frisa que o projeto mantém intocada a política de transparência para a gestão pública: “É preciso estabelecer limites no uso de informações pessoais pelo poder público. Regular a coleta, o processamento, o tratamento e a utilização de informações obtidas a todo momento de consumidores e usuários da internet é um tema urgente. Por isso, acompanhei a construção do texto e assinei como coautor do projeto de lei que significa um marco legal da Política Municipal de proteção de dados pessoais e da privacidade no âmbito da administração pública direta e indireta no município de São Paulo. É preciso pontuar que esse projeto de lei não irá interferir na transparência de informações que são de domínio público”.

 

A vereadora do PSOL, Sâmia Bomfim, reforça que a criação de leis municipais para proteção dos dados pessoais das pessoas é uma tendência global. “No contexto das cidades inteligentes, grandes empresas de tecnologia da informação – inclusive estrangeiras – têm realizado parcerias com as prefeituras para coletarem e analisarem os dados dos cidadãos. Em São Paulo, o problema é muito sério: Dória colocou à venda os dados do bilhete único, por exemplo. Assim como nos preocupamos com as opções de privacidade das fotos que compartilhamos nas redes sociais, é muito importante que possamos ter controle sobre a coleta e uso dos nossos dados pessoais pelo poder público. Iniciativas como o PL de Proteção de Dados Pessoais estão surgindo em todo o mundo. Na Europa, observamos prefeituras como a de Ada Colau, em Barcelona, terem uma postura firme com relação a comercialização dos dados dos cidadãos. O projeto que estamos apresentando em São Paulo, elaborado a partir de um processo amplo de debates e formulação de mandatos parlamentares e sociedade civil, é pioneiro no Brasil e aponta na direção de cidades mais democráticas, que usem a tecnologia para empoderar a população e não para explorá-la”, afirma Sâmia.

 

A Rede Nossa São Paulo participou do processo colocando a proteção de dados na sua agenda de promoção da qualidade de vida dos munícipes.  “Apoiamos esse PL por ver nele uma importante forma de avançarmos no caminho do direito à privacidade na cidade. Cada vez mais a tecnologia e a internet vai se conectar com as políticas públicas, vai fazer parte da gestão da cidade, e isso é importante. No entanto, não podemos abrir mão da nossa privacidade em detrimento dessas novas tecnologias. Temos hoje um hiato com relação a esse tema em São Paulo, por isso que é fundamental a Câmara Municipal se debruçar sobre este assunto e levar a sério a pauta do direito à privacidade. Isso será um avanço para São Paulo e deve inspirar outras cidades a fazerem o mesmo”, diz Américo Sampaio, gestor de projetos da organização.

 

“O cidadão não esta a venda! Pela garantia da liberdade e privacidade e o uso dos dados para criação e aperfeiçoamento de políticas publicas”, conclui a vereadora do PT, Juliana Cardoso.

 

Coletiva de apresentação do PL de proteção de dados pessoais

  • 24 de novembro, às 13h
  • Local: Teatro Next – R. Rêgo Freitas, 454 – República – São Paulo

 

Crédito da imagem: Intervozes, licenciado sob Creative Commons – Atribuição 2.0 Internacional

 

Links relacionados:

Pesquisadores da LAVITS propõem adoção de lei municipal para proteção de dados pessoais

Projeto de lei de proteção de dados pessoais entra na pauta do legislativo de Campinas

Investimentos públicos, dados privatizados